Sérgio Ferreira, presidente da direção da AIHO (Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste) desde 2020, é formado em Microbiologia e o seu percurso está ligado ao controlo da qualidade das águas e, paralelamente, tem desenvolvido competências na área da Engenharia Alimentar. Também foi presidente da Junta de Freguesia de Santa Bárbara, em Lourinhã.
Todos sabemos que o setor Agrícola tem uma importância extrema no território, mas nem todos conhecemos o que é a AIHO e o que ela é…
A AIHO, é a Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste e, por ser interprofissional, tem a produção e a comercialização de horticultura. Todos têm um objetivo comum, que é fazer desenvolver a horticultura para que consigamos, como região, continuar a crescer e a produzir corretamente.
E, em termos práticos, que tipo de apoio é que a AIHO desempenha junto dos produtores locais e dos seus associados?
No fundo, podemos olhar para a associação como se fosse um chapéu. Por um lado, tem a missão de representar a horticultura perante as entidades oficiais, os nossos produtores e a região e procura resolver grande parte dos problemas. Por outro lado, somos uma entidade certificada para a formação e, por isso, fornecemos formações aos nossos sócios e a todos que queiram.
Todos os associados da AIHO, neste caso os produtores, são só da região Oeste?
Sim, toda a região Oeste, no entanto alargámos ligeiramente para a zona de Mafra e Loures que acaba por estar muito próximo de nós. Mas falamos essencialmente, da região Oeste que é a principal como produtora por excelência.
Quais são os produtos mais produzidos?
Temos de destacar o tomate. O tomate é uma das principais culturas da região, fortemente instalado no concelho de Torres Vedras que tem características muito interessantes, e fez um caminho com diferentes empresários para construir infraestruturas que conseguem produzir todo o ano com grande qualidade. Depois temos as diferentes couves, em que a couve-coração é a principal, lombardo, brócolos, couve-flor, feijão verde, alface, cebola e batata.
Qual é o volume de produção?
O volume é sempre difícil de dar, porque estamos a falar de diferentes produções. Nós, só nos nossos associados, temos já uma grande expressão naquilo que é a representatividade da região, já ultrapassamos os 300 milhões de euros por ano, mas a região andará sempre, provavelmente para o dobro deste número, a nível de volume de faturação direta. Isto gera muito valor indireto, porque depois temos todos os transportes envolvidos, as empresas de prestações de serviços, a dimensão é algo fundamental e é o principal motor da economia da nossa região.
E o volume de negócio?
O volume de negócio tem aumentado fortemente, existem cada vez mais produtores de maior dimensão, porque os de menor dimensão têm dificuldade em terem produtos em quantidade para dar resposta às necessidades que o mercado hoje em dia pede. Os produtores têm crescido em dimensão, em volume de produção e em volume de negócio e, por isso gera uma economia à volta porque a agricultura evoluiu.
Como é que tem evoluído a produção hortícola nos últimos anos?
Tem havido uma constante evolução na produção hortícola, não só nas práticas culturais, no modo como fazemos, mas também na tecnologia que é introduzida, seja para auxiliar a gerir melhor a água que temos disponível, seja para a aplicação de produtos que necessitamos para controlar potenciais pragas ou doenças, seja em especial até se pensarmos na tecnologia que está envolvida nas plantas que são enxertadas, ou seja, nós temos aqui uma agricultura de precisão e de grande valor acrescentado para o produto final.
A inovação tecnológica está cada vez mais presente…
Está cada vez mais presente, e nós temos aqui no Oeste, felizmente, muitos empresários agrícolas com visão e disponíveis para experimentar novas tecnologias, mesmo sem saber o que é que vai originar. Não há receio, porque normalmente as novas tecnologias, às vezes correm bem, outras vezes menos bem, mas no Oeste nós temos pessoas e empresários agrícolas com essa visão e com essa disponibilidade. Nós estamos em constantes testes e avaliações nas diferentes explorações de inovações, sejam elas nas plantas, em equipamento novo, numa central de rega nova, no que for. Portanto, temos feito grandes melhorias na produção.
Os produtos produzidos nesta região, vão para onde?
Parte deles são absorvidos pelas necessidades nacionais, ou seja, as grandes cadeias de distribuição trabalham diretamente com a produção do Oeste. No entanto, a grande percentagem, porque nós temos um grande volume, vai para exportação.
Quais são os países que recebem estes produtos?
O nosso principal parceiro, é Espanha. E porquê? Espanha é um dos principais produtores de hortícolas mundiais. Tem um canal muito bem trabalhado para fazer o resto da exportação da Europa. Portanto, nós temos alguns produtores que trabalham diretamente com Espanha, porque precisa também da nossa produção, que em algumas alturas, por questões climáticas, não conseguem produzir bem. No entanto, dependendo do produto, falo especificamente do tomate que vai muito para Espanha, mas por exemplo as couves e a abóbora, faz-se exportação para toda a Europa Central. Todo o Oeste consegue exportar para grande parte da Europa, e cada vez mais porque os produtos do Oeste de Portugal são reconhecidos pela sua qualidade.
Quais são os maiores desafios que os produtores hortícolas enfrentam atualmente?
Existem grandes desafios, tais como as alterações climáticas, e os primeiros a sofrerem são os agricultores, porque dependem delas para produzir. Depois, a disponibilidade de água, porque são necessárias decisões a nível político para criar novas infraestruturas. Também, outro desafio é o pensamento Europeu porque a Europa habituou-se a ter produtos de grande qualidade e as decisões têm sido, retirar muitas substâncias ativas que são necessárias e, têm criado grandes dificuldades. Incentivar os jovens no Oeste também é um grande desafio e, por fim a disponibilidade da mão de obra porque apesar da tecnologia, continua-se a necessitar muito.
De que forma a AIHO está a ajudar os agricultores a enfrentar estes desafios?
Nós, nestas dificuldades, promovemos encontros e debates relativamente a todos estes desafios e reunimos com as entidades para propormos soluções para que os nossos produtores tenham ferramentas necessárias.
Há uma grande preocupação com a sustentabilidade, como é que está a ser integrada nas práticas agrícolas da região?
A sustentabilidade deve ser vista de um modo mais alargado. A sustentabilidade ambiental é uma coisa que o agricultor sempre se preocupou porque é o que mais depende do ambiente para poder trabalhar. Mas nós temos que ver isto numa perspetiva de sustentabilidade económica, porque sem esta, ninguém vai conseguir praticar a sustentabilidade ambiental corretamente e a sustentabilidade social. Nós olhamos para estas três vertentes e elas têm de estar alinhadas e, por isso há muitos anos que procuramos, as melhores práticas e técnicas para reduzirmos as necessidades hídricas a aplicar.
A nossa zona está repleta de jovens agricultores, que conselho daria a quem está a iniciar uma nova carreira?
Primeiro é que não tenha medo, que seja empreendedor e irreverente. Tem que se estruturar uma empresa porque um agricultor hoje em dia é mesmo um empresário agrícola. Não ter medo de implementar as novas tecnologias e, também o facto de não se sujeitar a estar no mercado livre, sem ter uma estrutura que o apoie.
Podemos dizer, que o setor agrícola vai ter um futuro risonho?
No futuro, nós temos que acreditar que o setor agrícola vai ser risonho, claro que sim. Em especial aqui no Oeste, que já é e será muito mais, porque nós temos uma capacidade enorme de nos reinventar.
Para isso, também é importante estarem todos os anos na Feira de São Pedro…
Sim, para nós é uma das principais feiras, porque a Feira de São Pedro é maior que Torres Vedras. Não só pelos seus séculos de história, mas pela sua dimensão e por aquilo que também a organização, a Câmara Municipal de Torres Vedras e a Promotorres E.M, nos vão transmitindo e vão demonstrando a importância da agricultura para a Feira. Há vários anos que participamos, temos vindo a tentar melhorar a nossa participação, porque o objetivo é demonstrar à população, que a agricultura mudou, que é moderna, produtiva, segura e sustentável…a Feira de São Pedro, é extremamente importante para passarmos essa imagem positiva, de juventude e de futuro.